quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Conexão SAG 2010 - Lito Cavalcanti

A equipe SAG tem o prazer de trazer a segunda parte da entrevista realizado com Lito Cavalcanti, que vai impressionar a todos os amantes de automobilismo

SAG: Em sua opinião, qual foi à importância das conquistas de Emerson Fittipaldi para a Fórmula 1?

LC: Ele abriu os olhos da F1 para os países fora da Europa, mostrou que podiam surgir novos nomes saídos do mesmo continente que já revelara Juan Manuel Fangio e Froilan Gonzalez. Para nós, foi o grande pioneiro, mostrou que havia espaço para quem trabalhasse a sério. Ele mudou a F1 lá e aqui.

SAG: Como foi comentar a maior perda do automobilismo brasileiro em 1994 quando Ayrton Senna veio a falecer após o grave acidente na etapa de Imola?

LC: Naquele ano o SporTV não transmitiu a F1. Eu estava em Silverstone naquele dia, acompanhando a primeira temporada do Gil de Ferran na F3.000. Mas recebi pedido de matérias de diversas revistas daqui, trabalhei feito um louco, o que ajudou a deixar e emoção, fortíssima, de lado. Graças a Deus não comentei aquela corrida, não sei como seria.

SAG: Quais corridas que valeram o título a Ayrton Senna teve o modo de guiar mais competente e porquê?

LC: Ele sempre teve um jeito único de guiar, que era andar no limite o tempo todo. Mas se for para citar a vitória mais impressionante dele, acho que foi Portugal 1985, no Estoril, debaixo de um dilúvio. Foi com um Lotus com motor Renault turbo, um monstro que produzia mais de 1.000 (isso mesmo, mil) cavalos; e naquela época os carros não tinham a assistência eletrônica de hoje, como controle de tração, diferencial eletrônico, nada disso. O piloto só tinha o volante, os pedais e a alavanca de câmbio, cada um que fizesse seu melhor. Chovia torrencialmente, o Alain Prost chegou a bater em plena reta, e o Ayrton venceu, conquistando sua primeira vitória na F1. Era o início de uma lenda, e nós brasileiros, que já o conhecíamos desde o tempo do kart, sabíamos disso.

SAG: Como você analisa as mudanças ocorridas na segurança nos circuitos e até mesmo no capacete e carro do piloto na Fórmula 1, após o falecimento de Ayrton Senna?

LC: Vejo como decorrência daquele e de outros acidentes. A F1 precisava eliminar a imagem de esporte assassino, e passou a exigir essa necessaríssima evolução. Hoje, parece que se passaram 100 anos, tamanha a melhora da segurança dos carros, capacetes, macacões e, também, da segurança das pistas.

SAG: Com sua experiência, quais os circuitos atuais e que já fizeram parte das temporadas da Fórmula 1 que você acredita ser mais técnicos e desafiadores? E qual trecho mais prazeroso para os pilotos?

LC: O principal era o velho Nurburgring, com seus mais de 22 quilômetros; a primeira versão de sete quilômetros de Spa-Francorchamps; a Silverstone anterior às chicanes, com a curva Woodcote, na entrada da reta dos boxes, feita em quinta marcha (na época eram apenas cinco marchas) a pleno acelerador (para os melhores); o circuito antigo de Interlagos; o saudoso circuito do Rio de Janeiro; os circuitos de Buenos Aires; Zeltweg antes de se transformar em A1. São muitas pistas, e as mais prazerosas eram e são, sempre, as mais difíceis, as mais desafiadoras. Hoje ainda temos Suzuka como representante desta velha escola.

SAG: Em sua opinião, qual piloto brasileiro você acredita ser favorito a chegar mais longe na Fórmula 1, assim como Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna? E por quê?

LC: Você fala em campeões? Então não esqueça do Nelson Piquet, um dos grandes de todos os tempos. Na verdade, não vejo ninguém. Um campeão é um piloto que engloba diversas qualidades, todas imprescindíveis. Temos ótimos pilotos, como Rubinho Barrichello e Felipe Massa, mas eles não reúnem todas as qualidades. Podem até vir a se sagrar campeões eventualmente, mas não dá para dizerem que estão entre os melhores de suas épocas. E um campeão é isso, o melhor de sua época. Ou um deles.

SAG: Em sua opinião, com relação a atual safra de pilotos brasileiros que estão chegando a Fórmula 1, como Felipe Nasr, Luiz Razia dentre outros, acredita na possibilidade de se ver novamente dois brasileiros no pódio na Fórmula 1?

LC: Muitos têm potencial, mas daí a chegar lá há vários aspectos decisivos. São muitas as variáveis. O Felipe Nasr, o Adriano Buzaid, o Rafael Suzuki e o César Ramos são os que vejo com melhores chances, porque têm carreiras bem dirigidas, não erraram na escolha das categorias, não queimaram etapas, não ingressaram em categorias superiores antes de mostrar resultado nas menores. Os brasileiros, em geral, querem fazer um ano em uma categoria e subir no seguinte, mesmo não tendo feito nada. Parece que acreditam na baboseira de suas assessorias de imprensa. É como o aluno que só passa de ano raspando; ele pode até se formar, mas vai sempre se ressentir da falta de base e não vai ser um bom profissional. Tem outros que estão seguindo o caminho certo, que é sempre a F3, como o Gabriel Dias, o Pietro Fantin, o Lucas Foresti, o Luís Felipe Derani. Mas é preciso andar bem na F3 antes de passar para uma categoria maior. Tem piloto que nunca venceu um a corrida e no fim do ano sobe. Não tem o menor futuro, não aprendeu o que tinha de aprender.

SAG: Em sua opinião, como analisa o jogo de equipe realizado pela Ferrari favorecendo Fernando Alonso?

LC: Não gosto nada disso, mas tenho de admitir que sempre existiu. Nos anos 50, o segundo piloto era obrigado a ceder seu carro se o do primeiro quebrasse. E o Massa também se beneficiou disso, no GP da China de 2008 o Raikonnen cedeu o segundo lugar para ele, como ele cedeu a vitória para o Kimi aqui em 2007. Esquisito foi ele se surpreender. Não defendo a Ferrari, não acho legal esse hábito, mas ele existe. Esportivamente é repulsivo, empresarialmente é compreensível. E a F1 é esporte e disputa empresarial. Não há dúvidas sobre qual lado fala mais forte na Ferrari. Já a McLaren e a Red Bull têm seguido outros caminhos.

SAG: Quais ex-pilotos você considera como piloto rápido, excelente acertador de carro e mais regular numa corrida?

LC: Os três brasileiros que chegaram ao título tinham essas qualidades. Além deles, Stewart e Prost. Se formos falar dos atuais, Alonso, um superpiloto. Schumacher não é o melhor acertador, Hakkinen também não era. Tem tanto piloto que vem à cabeça que é melhor ficarmos nesses mais recentes.

SAG: Qual a sua avaliação sobre as equipes novatas Lotus, Virgin e HRT Racing nesta temporada da Fórmula 1?

LC: A Lotus tem o melhor corpo técnico e por isso se destaca. A Virgin é uma aposta nos softwares de dinâmica de fluidos como substitutos dos túneis de vento, o que um dia vai dar certo mas por enquanto é um pouco prematuro. Só é melhor do que a HRT porque o carro que a Dallara fez para os espanhóis é pouco mais do que um GP2. Faltou dinheiro antes do projeto estar pronto e, quando chegou a grana, o trabalho foi completado na base da pressa. Não podia mesmo dar certo.

SAG: Na proximidade do GP Brasil, você acredita que Felipe Massa possa se tornar o brasileiro com maior numero de vitórias em Interlagos?

LC: Não neste ano.

SAG: Como você analisa o retorno de Michael Schumacher as competições da Fórmula 1, após 3 anos afastados das pistas?

LC: Como uma tentativa válida. Ele andou bem no Japão. Será que não está em vias de um renascimento? Vamos esperar o ano que vem antes de enterrá-lo definitivamente. Mas admito que 2010 foi frustrante.

SAG: Na sua visão, a escolha de ex-pilotos para serem comissários trouxe algum beneficio para a Fórmula 1?

LC: Trouxe sim. Eu defendo essa tese há anos, cansei de falar sobre isso na TV, sempre pedi isso à CBA, mas nunca fui ouvido.

SAG: Já teve a oportunidade de estar dentro de um carro da Fórmula 1? Qual foi a sensação?

LC:Não, nunca tive.

SAG: Você acredita que Lucas di Grassi e Bruno Senna continuam na Fórmula 1?

LC: Tenho sérias dúvidas. Não pela capacidade deles, ambos têm plenas condições, mas pela situação de suas equipes, que têm de ir atrás de pilotos com patrocínios fortes para sobreviverem. Vide Yamamoto na HRT e d’Ambrosio na Virgin.

SAG: Quais os pilotos das outras categorias você gostaria de assistir pilotando um Fórmula 1?

LC: Gostaria de ver alguns da IRL, como o Franchitti, o Scott Dixon, o Tony Kanaan, o Victor Meira, a Bia, a Simona de Silvestro, o Helinho, que um dia viu o Button guiando e disse que nunca viu um piloto tão ruim...Mas tinha de ser no mínimo um Renault, um Williams, um Mercedes. Catraias não permitem se ver nada, como provou o Helinho ao ver o Button em um Honda.

SAG: Quais as expectativas para a temporada 2011 sobre as mudanças no regulamento técnico e no fornecedor de pneus?

LC: A de sempre. As equipes com mais verba na frente e o resto compondo o grid, ajudando a fazer o espetáculo. É sempre assim.

SAG: Quais suas expectativas para o automobilismo brasileiro na temporada 2011?

LC: Não muito altas. As equipes da Stock estão quase falidas, tem muito piloto ruim correndo porque pode pagar; a F3 rema, rema, rema e não sai do lugar. O restoe é categoria monomarca ou para banqueiros gordos brincarem de pilotos, só têm como qualidade abrir mercado de trabalho para os verdadeiros profissionais, que são os pilotos, engenheiros e mecânicos. Truck, desculpem, não considero automobilismo. E a FFuture espelha o que é o kartismo hoje, um deserto. Pode crescer, mas ainda demora um pouco. O que eu acho que pode ser legal é a recriação da Fórmula Vê pelo pessoal de Piracicaba, uma categoria barata para o amador, de onde podem sair novos profissionais.

SAG: Qual outra categoria brasileira você gostaria de comentar?

LC: Já trabalho muito, para mim está de bom tamanho. Faço F1, GP2, Stock Car e, de vez em quando, ainda sobra uma FFuture e um Troféu Linea. Raramente passo um fim de semana em casa.

SAG: Na sua visão, como está sendo o trabalho de Nelsinho Piquet em sua nova fase na carreira, agora na Nascar?

LC: Muito bom.

SAG: Além de Interlagos, quais outros circuitos poderiam receber categorias de expressão internacional? e que categorias poderiam vir para o Brasil além da F-1, WTCC e Indy?

LC: Curitiba já recebe; Brasília e Goiânia, se fossem bem cuidados, mas seria preciso que as prefeituras dessas cidades acordassem para o potencial econômico do automobilismo, o que insistem burramente em ignorar. Adoraria ver uma F3 mais forte, como foi nos fim dos anos 80 até 94, o que possibilitaria a repetição da boa iniciativa do Roberto Mourão e do Augusto Cesário de fazer um minitorneio de verão em Interlagos. E corridas de moto, que eu adoro.

SAG: O que a sociedade e as autoridades poderiam fazer para melhorar os Autódromos no Brasil?

LC: Dar-lhes condições mínimas de funcionamento. Uma corrida faz girar a roda econômica da cidade que a sedia. Traz dinheiro para o comércio, gera renda e impostos, cria empregos, traz exposição para a cidade. Para não ver isso não basta ser cego, é preciso ser muito, muito, imensamente pouco inteligente.

SAG: Em sua opinião, quais as razões para que a F-3 Sul-americana possua um grid tão pequeno?

LC: Ganância dos donos das equipes, marketing pobre, falta de competição internacional, falta de transmissão de televisão (por canais que tragam visibilidade real), cabeças pequenas. Para mim, isso não é consequência, e sim a razão da falta de patrocinadores fortes.

SAG: O Racing Festival, que foi implantado esse ano, tem tudo para se tornar um sucesso maior ainda, ou não vai durar muito tempo como a Fórmula Renault Brasileira que foi extinta há alguns anos?

LC: Não posso adivinhar, mas acho que dura uns três anos.

SAG: Qual recado você deixaria para os amantes de automobilismo que acompanham o Blog Stop andGo?

LC: Continuem acompanhando.

4 comentários:

Rogério Grecco disse...

Boa tarde
Sem condições de entrar ontem
Nossa show de bola essa segunda parte
Ai vcs capricharam
Esse blog é só sucesso
Rogério

Leandro Coelho disse...

Q entrevista é essa galera
O Lito é show mesmo nossa ta espetacular
É de emocionar caramba
Vcs arrebentaram
Leandro

Guto Barros disse...

Oh sem palavras pra descrever o q foi essa entrevista
Vcs a cada dia nos surpreende mais e mais
Não tem o q falar
Ah não ser q ficou espetacular
O Lito realmente é um profissional completo
Guto

Henrique Montaph disse...

Não tem nem o q comentar
Só q vcs realizam uma ótima cobertura das categorias e tão arrasando nas entrevistas perguntando tudo q gostariamos de saber
Ai parabéns
Henrique